Cotado a R$ 3,2490, o dólar comercial atingiu, na sexta-feira, o maior valor em 12 anos. A rápida elevação foi influenciada por diferentes fatores. Além do real estar seguindo outras moedas mais desvalorizadas em relação ao dólar, a instabilidade política brasileira intensificou o processo. Desde agosto do ano passado, a valorização do dólar chega a 45%. De um lado da moeda, os consumidores sentem o peso nos itens importados. Do outro, o setor do agronegócio, na indústria e na agricultura, festeja os ganhos extras com a cotação elevada.
A alta do dólar está sendo muito benéfica para nós, exportadores. Nossos produtos ficaram mais competitivos. Podemos até pagar mais caro por alguns componentes, que vêm do Exterior, mas a valorização dos nossos produtos compensa afirma Odilo Pedro Marion, fundador do grupo Agrimec, que exporta equipamentos para países como Bolívia, Nicarágua, México, Paraguai e Uruguai.
A velocidade da alta surpreendeu afirma Vitor Marasca Júnior, diretor comercial da cerealista Marasca, empresa que intermedia a exportação de grãos, como soja, trigo e milho.
Marasca explica que, caso o dólar estivesse com a cotação de dois anos atrás, em torno de R$ 2, a perspectiva do produtor de soja, por exemplo, não seria nada boa no momento. Por se tratar de um mercado mundial, o preço da soja é definido com base na oferta e na demanda internacional. Na bolsa de valores de Chicago, referência para o setor, a saca da oleaginosa está custando menos de US$ 10.
Se fosse em 2013, estaríamos comprando a saca por cerca de R$ 30. Agora, o valor está em torno de R$ 75. É muito bom para o produtor, pois é renda entrando nas propriedades. Mas o cenário é de muita incerteza, porque logo ali começa a nova safra, e os insumos são importados pondera Marasca.
Mesmo fábricas que não exportam, com foco no mercado interno, são beneficiadas, pois a concorrência dos importados é menor, já que roupas, brinquedos e máquinas vindos da China chegam mais caros ao Brasil.
É um valor adequado para o bem do Brasil. A indústria chinesa já estava quebrando a brasileira. Se continuasse assim, a indústria brasileira não iria sobreviver muito tempo pondera Marion.
OS EFEITOS
Dólar em alta
- Com a desvalorização do real, viagens internacionais e os produtos importados ficam mais caros
- Para quem exporta ou fabrica produtos cujo preço é definido no mercado internacional (soja e outras commodities), o dólar mais caro é benéfico. O produto brasileiro pode ser vendido por um preço mais alto porque, na conversão, ficará mais barato em moeda americana, tornando-se competitivo
Dicas em tempos de alta
- Não é uma boa hora para comprar produtos importados
- Por mais que seja convidativo com a alta, não é hora de investir nessa moeda. Segundo especialistas, esse tipo de investimento é muito arriscado
- O pão francês é um forte candidato a ter um aumento considerável de preço, devido à importação da farinha de trigo. Tapioca pode ser um substituto mais em conta
- O preço da gasolina já está alto, mas a tendência é que ele suba ainda mais com a flutuação do dólar
- Se for abrir um negócio, ou é agricultor e está planejando a próxima safra, não se empolgue com os ganhos extras do dólar alto. Insumos importados também estão mais caros, e a cotação alta deve durar mais alguns meses

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